Para construir essa sociedade do bem-estar – que proporcione o suficiente para todos, para sempre – o Instituto Akatu aponta os 10 caminhos para a Produção e o Consumo Conscientes. Ao conhecê-los e valorizá-los, seja ao fazer suas compras no supermercado ou no modo de operar o seu negócio, você pode contribuir desde já para a construção de uma sociedade mais sustentável.
1. O durável mais que o descartável
As opções duráveis, em regra, são sempre melhores que as descartáveis. Salvo algumas exceções (como no caso de itens de enfermaria, em que a segurança em relação à contaminação é inquestionável), optar por algo que não precisa ser substituído rapidamente ou que você “usa e joga fora” evita que mais recursos naturais sejam usados para produzir um novo item. Como no caso emblemático da substituição das sacolas plásticas descartáveis por sacolas duráveis. Mesmo que um produto durável seja mais caro, de imediato, que o descartável, ele pode “reembolsar” o consumidor ao longo do seu período de uso. Um bom exemplo é o caso das lâmpadas LED, que duram até 13 anos e consomem muito menos energia elétrica para a mesma luminosidade. O preço maior pago pela LED é “devolvido”, pela redução da conta de energia do consumidor, em apenas 1 ano ao substituir uma lâmpada incandescente, e em 3 anos ao substituir uma lâmpada fluorescente. A obsolescência acelerada (itens que são programados para durar menos) também é algo a se levar em conta na escolha por duráveis. O caminho para as empresas é de investir nos serviços de conserto e reparação de itens das suas marcas, incentivando outro tipo de relação com a sua produção. E produtos duráveis contribuem para que menos resíduos sejam gerados, evitando a poluição e obstrução de vias e canais de escoamento de água – o que traz riscos de doenças, especialmente quando se considera que boa parte ainda não vão para aterros sanitários. Lembre-se: resíduo bom é resíduo não gerado.
2. A produção local mais que a global
Ao comprar um item produzido localmente, você incentiva o desenvolvimento da economia do lugar de origem, além de contribuir para a diminuição de emissões de gás carbônico das longas viagens que os produtos fazem para chegar até o consumidor. Outra contribuição que esse caminho traz é a possibilidade de se conhecer melhor o produtor e entender de onde vêm as coisas e para onde elas vão após o uso – a cadeia de produção. As cooperativas e organizações comunitárias são um exemplo de produção e comercialização de produtos típicos regionais e fazem valer essa opção para o consumidor. Você conhece alguma? Quanto mais a produção local for incentivada pela demanda do consumidor, mais produtos com essas características tendem a surgir.
3. O compartilhado mais do que o individual
Por que compramos e guardamos em casa tantos produtos? Não seria possível usufruir do bem-estar que o produto ou serviço nos traz com um acesso temporário a ele? Cada vez mais as pessoas podem compartilhar o uso de um produto por meio da posse comunitária, alugando-o temporariamente ou buscando suprir a necessidade de uma forma a compartilhar o uso. O caso da mobilidade é marcante: é comum confundir a sensação de se ter um carro com a satisfação de se locomover facilmente pela cidade. O sistema de compartilhamento de bicicletas ou de carros nas grandes metrópoles é um dos exemplos do uso compartilhado de produtos, assim como as lavanderias compartilhadas nos condomínios e o aluguel de roupas e brinquedos, iniciativas da nova economia colaborativa. Ao compartilharmos, expandimos ao máximo a capacidade de uso de um produto. Assim aproveitamos o que está ocioso, atendemos a necessidade de mais pessoas e evitamos a extração de recursos naturais para a produção de novos itens.
4. O aproveitamento integral e não o desperdício
A primeira imagem desse caminho é a preparação de alimentos com todas as partes de legumes e verduras, aproveitando talos, folhas, sementes e cascas. Mas o aproveitamento integral diz respeito também ao planejamento das compras de somente o necessário, diminuindo o desperdício dos excessos. Também é essencial estender ao máximo a vida útil de qualquer produto, aprimorando usos e melhorando a eficácia de sua aplicação, como de eletroeletrônicos, livros, móveis e carros. Brechós de roupas usadas e reutilizar a água de chuva são outros exemplos de aproveitamento integral e não desperdício de recursos.
5. O saudável nos produtos e na forma de viver e não o prejudicial
Opções saudáveis, como a prática de esportes, alimentação balanceada e orgânica (sem o uso de defensivos tóxicos) e o equilíbrio entre trabalho e lazer, aumentam o bem-estar de todos. Pessoas mais saudáveis têm menos necessidade de consumo de remédios, tratamentos e exames médicos – o que os especialistas chamam de medicina preventiva. Além de outros benefícios facilmente perceptíveis como boa disposição e melhores desempenhos nos processos de aprendizagem. Escolher o que não é prejudicial para a sua saúde e de sua família, além de mudança de hábitos, requer acesso a muita informação. Quantos produtos não se sabia que faziam mal à saúde e hoje não são recomendados para muitas pessoas? Por isso, é essencial termos mais informações sobre a composição e origem dos produtos nos rótulos e campanhas de esclarecimento à população sobre hábitos saudáveis.
6. O virtual mais que o material
A música ouvida no aparelho de MP3, o livro e a revista lidos em dispositivos eletrônicos, o filme baixado diretamente de uma “nuvem” são exemplos das possibilidades das opções virtuais. Além de não gerarem resíduos, as opções imateriais tendem a criar empregos de melhor qualidade que as materiais, apoiam o desafio do desenvolvimento de tecnologias mais avançadas, e gastam, ao longo da cadeia produtiva, menos água, energia e outros recursos naturais, como petróleo e derivados e outros minérios, dada a inexistência do produto físico. Também demandam menos transporte de cargas e pessoas, tanto nas etapas de extração, transformação e produção, quanto nas de distribuição e varejo, reduzindo ainda mais o uso de recursos naturais.
7. A suficiência e não o excesso
Você conhece alguém que mantém seu aparelho celular por anos e não o troca a cada novo lançamento? Essa pessoa entendeu que a busca é por se comunicar, o que pode ser atendido sem trocar o aparelho. É essa a pergunta que este caminho nos faz: será que já não tenho/comprei o suficiente para suprir minhas necessidades? Há sempre uma novidade no mercado aparentemente indispensável: um novo celular com câmera de maior resolução, uma nova geladeira que oferece o gelo diretamente na porta. Ou, mesmo se temos sapatos suficientes, aparece a urgência em ter aquele novo modelo que será valorizado na próxima estação. A lógica da compra pela compra em si, desprovida de um conteúdo de real necessidade, assim como a troca desnecessária de produtos ainda em plena vida útil, extrapola o limite do suficiente para cada um. E, com isso, extrapola o limite da sustentabilidade que é garantir “o suficiente, para todos, para sempre”.
8. A experiência e a emoção mais do que o tangível
A máxima que revela este caminho é: “Presença é mais importante que presente!”. Os valores da sociedade consumista têm superado o que realmente importa na nossa vida: emoções, experiências, convivência, lealdade ao que realmente somos e sentimos. Sabores, amanheceres e entardeceres, boas risadas, beijos, abraços. Isso é o que constituirá nossas belas lembranças, enquanto raramente nos lembramos de quem deu qual presente e quando. A presença significa o ato generoso de doar a alguém parte do nosso tempo, nosso mais valioso bem, totalmente perecível e não renovável. As viagens propostas por agências que oferecem vivências por meio de visitas participativas e educativas são uma forma de aproveitar experiência e emoção proporcionadas por um novo destino, no lugar de compras de bens materiais.
9. A cooperação para a sustentabilidade mais do que a competição
As empresas do setor varejista que praticam logística colaborativa para melhorar o nível do serviço e reduzir custos e emissões de carbono estão seguindo este caminho. Algumas práticas só podem ser transformadas coletivamente, como é o caso do combate ao uso de trabalho infantil ou análogo ao escravo, ou das ações contra a destruição de matas nativas para cultivo da soja ou criação de gado. Os Pactos contra o Trabalho Escravo e os Pactos da Carne e da Soja são exemplos de ações nesse sentido. As empresas signatárias discutem e implementam conjuntamente estratégias de resolução desses problemas em suas cadeias produtivas, compartilham informações sobre as condições de fornecedores, e, gradualmente, reduzem até o desaparecimento as práticas condenáveis. Reconhecendo empresas que seguem este caminho, contribuímos para a sociedade do bem-estar.
10. A publicidade não voltada a provocar o consumismo
O princípio da publicidade é vender o desejo por um produto ou um serviço, mas é da sua natureza incentivar o consumismo? A forte insustentabilidade social e ambiental da sociedade atual exige a busca por novos princípios para a publicidade: ela deve dialogar com a demanda do consumidor por bem-estar, mais do que pelo pretenso significado da compra e do uso de cada produto; por inovação na direção de um mundo mais sustentável, mais do que pela novidade em si. Trata-se de uma grande oportunidade fazer uma publicidade mais consciente. Ela pode e deve trazer informações suficientes para que o consumidor escolha favorecendo a sustentabilidade. A Patagonia, fabricante de roupas de montanhismo, estimula redução do consumo e a pressão sobre os recursos naturais. Produz roupas mais duráveis, conserta roupas danificadas dos clientes, doa para caridade produtos próprios não vendidos e recicla o que chegou ao fim de sua vida útil. E também incentiva os clientes a comprar apenas o necessário, consertar o que está danificado, vender ou doar as roupas não mais utilizadas e encaminhar as roupas que chegaram ao fim da vida útil à reciclagem.
Este texto é de autoria do Instituto Akatu
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