O mundo está mudando e a natureza tem dado sinais de que a humanidade precisa rever sua relação com o planeta. Isso envolve todas as dimensões humanas, inclusive a habitação. Por conta disso, cada vez mais pessoas têm buscado transformar sua casa em uma moradia sustentável, um lugar mais econômico, que agrida menos o meio ambiente.

Para Antonio Caramelo, presidente e arquiteto master da Caramelo Arquitetos Associados, moradias sustentáveis ultrapassam a questão de opção. “Estamos vivendo uma crise econômica e ecológica. Na minha visão, não se trata mais de uma escolha”, explica. Uma das justificativas usadas por ele é o relatório Planeta Vivo, da ONG ambientalista World Wildlife Fund (WWF). Em 2014, o documento disse que seria necessário um planeta e meio para conseguir renovar os recursos naturais da Terra por causa da forma e velocidade que os consumimos. “Se mantivermos o ritmo atual, somado ao crescimento populacional, a qualidade do nosso futuro será uma grande interrogação”, completa.

Casa Verde

Transformar sua casa em um modelo sustentável não é tão difícil, mas é preciso planejamento desde a obra. Um desses exemplos é uma construção realizada em Campinas (SP) pela engenheira paulista Lourdes Printes. Ela e seus colegas ergueram a primeira casa na América Latina que recebeu o selo Leed For Homes. 

O Leed (do inglês Leadership in Energy and Environmental Design) é um sistema internacional de certificação, usado em 143 países, que incentiva projetos sustentáveis em obras ou  reformas de residências, prédios comerciais, escolares e intervenções urbanas. De acordo com a engenheira, um dos diferenciais  de construções sustentáveis é o planejamento, feito desde o projeto com o auxílio dos diversos profissionais. “A gente trabalha de maneira integrada com arquitetos, engenheiro elétrico, hidráulico, entre outros. Desde o início, ninguém trabalha sozinho”, conta.

Além disso, ela preza pelo contato direto com o proprietário. Com ele são discutidos gastos de água e energia e se verifica em quais pontos os moradores podem economizar. Outro aspecto importante é a escolha do material. “Eles são de extrema importância. Precisam ser produtos recicláveis e  temos que saber se o fabricante usou menos energia e se usou e descartou corretamente a água”, diz.

Investimento
À primeira vista, um projeto como esse pode não sair barato, mas a longo prazo a economia é segura. “Dá para economizar metade da conta de energia e quase metade com água, se conseguir reaproveitá-la”, explica Lourdes.

A casa construída por ela, que ganhou a certificação, custou cerca de R$ 2.500 por metro quadrado. Sem os acabamentos todos, o preço cairia para R$ 1.300, o metro quadrado. No entanto, tudo depende do projeto, como explica Caramelo. 
“O valor é variável, pois a arquitetura sustentável busca soluções que atendam ao programa definido pelo cliente, as condições físicas locais e a previsão das necessidades para prolongar a vida útil da edificação”, conta.

Para quem não tem essa grana ou não pretende investir muito, separamos algumas dicas  que ajudarão a transformar sua casa em um ambiente sustentável e equilibrado, além de facilitar na economia de água e energia.

Grandes mudanças

Energia
O gasto energético é uma das principais preocupações em uma casa sustentável. Para economizar, construa claraboias em locais adequados para explorar a iluminação natural, instale painéis solares para aquecimento de água e fotovoltáicos para a produção de energia a partir da radiação solar. Dá para encontrar painel por R$ 4.700 (sistema de 200 litros de água). “Sistemas fotovoltáicos necessitam de investimento em torno de R$ 12 mil”, explica Caramelo. Nos telhados, o uso de manta térmica, pintar o telhado de branco para refletir os raios solares ou implantar  telhados verdes, em caso de lajes, funcionam como isolamento térmico.

Água
A economia e o reaproveitamento são importantes diferenciais em construções verdes. Para isso, pode-se começar pela captação da água da chuva. Além disso, dá para reutilizar águas cinzas (que vêm das torneiras e chuveiros), que precisam de tratamento antes de voltarem às torneiras. Na casa construída por Lourdes, elas passam por processo de decantação e, em seguida, filtração feita com ajuda de raízes de plantas macrófitas aquáticas. Depois de tratadas, águas cinzas e pluviais são usadas em descargas e na irrigação de jardins e lavagem de áreas externas. Só aguas negras (vaso sanitários) são descartadas.

Pequenas mudanças

Lâmpadas
Troque as incandescentes e fluorescentes por iluminação de LED. Elas duram mais e são mais econômicas.

Parede de vidro
Ajudam a separar ambientes, mas não bloqueiam a luz. Blocos de vidro podem ser usados para evitar transparência.

Películas
Coloque em janelas para diminuir a quantidade de calor que entra no ambiente junto com a luz solar. Como consequência, economize no ar condicionado.

Eletrodomésticos
Dê preferência aos que tenham selo Procel.

Torneiras
Instale arejadores para diminuir o gasto. Temporizadores também ajudam. Além disso, reguladores de vazão são indicados.

Piscinas
Para evitar perdas com evaporação, aconselha-se que as piscinas tenham cobertura. Isso também vale para prevenir doenças ligadas ao Aedes aegypti.

Banheiro
Substitua bacias sanitárias por modelos que armazenem menos água. Troque caixas por outras com opção de controle do volume de água adequado ao uso.
Fonte: Daniel Silveira/Correio da Bahia