Segue a segunda parte da entrevista que Bruno Justo, Coordenador Operacional da Green Building Council Brasil (GBC), concedeu à Montage sobre a construção sustentável e os desafios para atingir metas importantes ao país. A primeiro parte foi publicada na semana passada. Confira!
MONTAGE: Qual é o critério utilizado pelo GBC para considerar uma construção sustentável?
GBC: Práticas de construção sustentável voltadas à localização e sua relação com o entorno, eficiência energética, uso racional de água, qualidade ambiental interna, uso de materiais de baixo impacto ambiental, inovação e práticas sociais.
MONTAGE: Qual o caminho para se tornar uma construção sustentável?
GBC: É necessário conceber projetos com a devida orientação para maximizar a iluminação e ventilação natural, valorizar espaços abertos, preservar ou recuperar habitat natural, manter baixa a carga térmica da edificação sombreando fachada, evitando o efeito ilha de calor com a aplicação dos telhados verde ou frios, se a fachada for de vidro, priorizar aqueles que permitem a entrada da iluminação e barram o calor ou utilizar películas especiais para tanto.
Internamente, investir em luminárias e sistema de ar condicionado de alta eficiência, sensores de presença, monitoramento de sistemas, elevadores inteligentes, captação de água de chuva para reuso, sistemas de tratamento e reuso de águas, painéis solares para aquecimento de água de chuveiro, produção de energia renovável. Com foco em saúde, utilizar tintas, vernizes e selantes com baixo teor de compostos orgânicos voláteis, produtos de limpezas que não possuem toxinas prejudiciais à saúde e sistemas de controle de qualidade do ar. Manter ainda um rígido processo de manutenção de dutos, filtros, controle de legionella, entre outros.
Em relação a materiais, deve-se priorizar fornecedores locais, materiais de reuso, materiais de conteúdos reciclados e biodegradáveis, madeira certificada, colocar em prática um planejamento eficiente de separação, reciclagem, reuso e correta destinação dos resíduos da construção e operação.
Os processos de certificação podem auxiliar a guiar e motivar os responsáveis para a consideração de forma integrada das práticas acima.
MONTAGE: A construção sustentável é mais cara?
GBC: O custo adicional de uma construção sustentável varia de 1% a 7% do valor gasto na construção, porém temos uma redução de 9% do custo operacional, ou seja, em curto prazo, temos o "pay back".
Mas ainda podemos somar ganhos econômicos relacionados à valorização do empreendimento, ao aumento da velocidade de ocupação, da retenção nas edificações, diminuindo o risco do investimento e aumento de produtividade dos usuários. A construção sustentável faz todo sentido econômico , oferecendo ganhos a todos os stakeholders relacionados à edificação.
MONTAGE: Hoje, o mercado está muito competitivo e os espaços estão escassos. É possível a construção sustentável, nesse cenário?
GBC: Por vezes, a competitividade auxilia o movimento uma vez que a construção sustentável desponta como importante diferencial. Outrossim, a escassez de espaço para construir, principalmente, nos grandes centro urbanos, justifica e fomenta um importante mercado para mitigação dos impactos das edificações, tal qual os projetos de reformas de edificações existentes com foco em eficiência. Pensando em prédios existentes, temos a oportunidade de reduzir consideravelmente os cursos de energia, água, melhorar a operação de manutenção, a qualidade ambiental interna e outros itens. Em termos de parâmetros numéricos, atualmente as edificações consomem 44% de energia e 21% de água tratada no país.
MONTAGE: Como a atuação de uma empresa de instalação hidráulica e elétrica pode se tornar sustentável?
GBC: Os projetistas de instalações devem se atentar às normas vigentes e de eficiência energética e hídrica existentes no Brasil e no mundo.
Um exemplo é a NBR 15920: 2011, aplicável em todas as instalações de baixa e média tensão e, também, nas redes de transmissão e distribuição de energia, com o intuito de economizar energia e reduzir as emissões de CO2, por meio do dimensionamento econômico dos fios e cabos elétricos. A queda de tensão total dos condutores pode chegar até 2%, tornando-a mais restritiva que a ASHRAE (normativa americana de eficiência energética). Outras estratégias aplicáveis em projetos elétricos eficientes são: a seleção correta de equipamentos eficientes, com cargas equivalentes a sua utilização (e não superdimensionados) e simulação energética da edificação, que apontará as falhas do sistema elétrico como um todo, levando em consideração todos os circuitos elétricos utilizados – ar condicionado, luminotécnico, elevadores e bombas, sistemas de aquecimento, equipamentos, envoltória eficiente/automatizada, entre outros.
Projetar circuitos de lâmpadas com acionamento separados também é uma estratégia de redução de consumo, pois o ligamento das lâmpadas fica em função do usuário, que controlará seu uso dependendo da iluminação existente no local (quando se usa luz natural, não é necessário iluminação artificial, podendo apagar as lâmpadas próximas de janelas, por exemplo, reduzindo, assim, o consumo energético). Podemos também citar a automação como um grande aliado da eficiência energética e utilização de energias renováveis no local como fonte alternativa de energia da rede municipal. Nesse caso, é necessário que o projetista especifique 2 relógios de energia, um que medirá a entrada de energia e outro que medirá a saída para a rede, conforme resolução nacional da ANEEL. Todos os sistemas citados são aplicáveis em projetos elétricos, hoje, e ajudam na redução do consumo energético e sustentabilidade da instalação elétrica.
Em relação à instalação hídrica, podemos citar a especificação de equipamentos hidráulicos eficientes, tais como torneiras com temporizadores, válvulas e descargas com duplo fluxo (3 e 6 litros), chuveiros eficientes, entre outros. Especificar medidores individuais de consumo (conforme a distribuição do projeto hidráulico) também ajuda na medição e verificação do consumo de água para cada grande área. É um caminho que facilita a promoção de estratégias de redução de consumo durante a operação e facilita a verificação de possíveis vazamentos. Reutilizar água de chuva para irrigação ou outros sistemas secundários de utilização de águas cinzas (vasos sanitários, torres de resfriamento) é uma estratégia de economia e redução de consumo de água potável. Diminuir a conta de fornecimento de água municipal no final do mês depende também do projeto hidráulico bem feito e dimensionado. É possível sempre recorrer à criatividade na hora de projetar, estando ciente das dificuldades e facilidades de cada projeto e, principalmente, de olho nas inovações que o mercado disponibiliza.
MONTAGE: Quais são os selos existentes? Que peso tem para o mercado como um todo? O consumidor final opta por unidades de construções sustentáveis, certificadas?
GBC: Há vários modelos de Certificações, a saber: AQUA, LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental), CASBEE, Green Star, BREEAM, HQE entre outros. A Certificação atesta que o empreendimento certificado seguiu de acordo com a sua tipologia os preceitos estipulados pelo mesmo, sendo o diferencial mensurado de acordo com o reconhecimento e a credibilidade da Certificação.
Considerando o ciclo de vida de 50 anos de um empreendimento, o gasto no processo construtivo e financiamento representam 25% do valor total, o remanescente, 75%, contempla a operação e manutenção dos empreendimentos, ou seja, são os consumidores finais os maiores beneficiados com o processo de Certificação.
O mundo corporativo já possui essa visão de mercado e de quem paga a conta final, por isso, suas instalações são realizadas em empreendimentos que seguem esses preceitos.
MONTAGE: O GBC também tem o papel de educar o consumidor final?
GBC: Sim. Em 2008, o Green Building Council Brasil lançou o Programa Nacional de Educação com o intuito de fomentar e capacitar o mercado da construção sustentável. Atualmente, contamos com mais de 55 mil profissionais impactados através dos cursos de pequena duração, Pós e MBA, seminários, palestras e a nossa Green Building Brasil Conferência Internacional e Expo, apresentando como denominador comum o objetivo de disseminar o conceito bem como a prática da construção sustentável junto com seus benefícios.
GBC: Sim. Em 2008, o Green Building Council Brasil lançou o Programa Nacional de Educação com o intuito de fomentar e capacitar o mercado da construção sustentável. Atualmente, contamos com mais de 55 mil profissionais impactados através dos cursos de pequena duração, Pós e MBA, seminários, palestras e a nossa Green Building Brasil Conferência Internacional e Expo, apresentando como denominador comum o objetivo de disseminar o conceito bem como a prática da construção sustentável junto com seus benefícios.
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