O Dia Mundial da Água, 22/3, alerta sobre a escassez eminente do recurso.
 E a necessidade real do país olhar de frente os riscos


O Dia Mundial da Água, 22 de março, chega em boa hora, com o tema ‘Água e Energia’, frente a tantos acontecimentos preocupantes no país, provocados pela falta de chuvas e, consequentemente, pela baixa no abastecimento dos reservatórios. Só o Sistema Cantareira, que responde por 70% do abastecimento da região metropolitana de São Paulo,  ainda não atingiu o nível desejável desde 3 de fevereiro, com um recorde negativo de 15,2%. Obteve o menor volume de água dos últimos 10 anos.

A data marca mais um ano de vivência em estado de alerta. Precisamos de ações permanentes e efetivas: uma gestão mais assertiva dos recursos hídricos, um comprometimento maior de todas as instâncias dos governos na implantação de infraestrutura e de políticas coerentes, uma reflexão da iniciativa privada  e da sociedade civil em relação ao uso irracional da água. Esse é um assunto que merece atenção constante de todos e não somente em períodos de estiagem e enchentes. Os riscos de escassez não diminuem, ao contrário, impõem-se como uma crise gritante exigindo gerenciamento contínuo no decorrer dos anos.

Entra e sai ano, as perspectivas são cada vez mais alarmantes sobre a necessidade versus escassez dos recursos. Na Conferência ONU-Água, os dados mostram, que até 2050, a demanda por água pode exceder 40% do que se tem disponível e por energia pressupõe-se um índice  de 50%.

O que isso significa? A agricultura utiliza 70% da água doce; a indústria, 8%;  a pecuária, 11%; as residências urbanas, 11%. E esse consumo tem aumentado num volume, que, num futuro breve, não terá como atender. Além disso, o fornecimento pelo sistema de geração de energia elétrica mais comum no país, como as hidrelétricas, depende totalmente da água. A estiagem impacta no seu funcionamento.

As alternativas, como, por exemplo, as termelétricas, têm alto custo e ameaçam o meio ambiente. Pouco se investe na energia solar, como no sistema fotovoltaico. O potencial de radiação do Brasil é um dos melhores do mundo, considerando quantidade de horas de luz por metro quadrado. Para se ter ideia, o ponto de maior radiação na Alemanha por metro quadrado é de 1.300 kW, e o menor de radiação do Brasil, 1.600 kW. O ponto mais alto de radiação do nosso país fica no nordeste e representa 2.203 kW por metro quadrado. O custo de instalação se recupera rapidamente, já que a energia não consumida é armazenada na concessionária, que tem autonomia para destiná-la a outro fim. É possível, reduzir em até 80% - 90%  o valor da conta de energia, com esse sistema.

Outro peso na preservação do recurso é o uso descontrolado da água. As perdas chegam a uma média de 40%, segundo pesquisa do Instituto Trata Brasil. Gasta-se num banho 110 litros de d’água, porém seria possível reduzir esse tempo e volume para 40 litros, num período de cinco minutos. 

Pesquisa do Programa Água para a Vida da WWF-Brasil apontou, em 2012, que  mais de 80% dos brasileiros consultados reconheceram que haverá problemas de abastecimento de água no futuro; e desses, 68% admitiram o desperdício como causa principal.

Os desafios considerados na Conferência são “garantir um fornecimento sustentável de água para 768 milhões de pessoas, que, atualmente, não têm acesso ao recurso; e proporcionar energia para cerca de 1,4 bilhão de pessoas, o que equivale a 20% da população mundial atual, ou seja, 7 bilhões. A previsão é que o planeta tenha 9 bilhões de habitantes em 2050”.

Mas, a agua é um bem finito e imprescindível para a sobrevivência de todos os seres do Planeta. A quantidade estimada no mundo é de 35.025.000 km3. Desse volume total (100%), apenas 2,5% são de água doce; dessa quantidade somente 0,3% está disponível, e isso corresponde a 0,019% do volume total estimado de água. O Brasil possui uma quantidade elevada do recurso, ou seja, 13,7% de água existente no mundo está disponível no país; desse total, 64% encontram-se na bacia amazônica e os 36% restantes nas outras regiões, onde residem 93% da população brasileira. Concluímos que as regiões sul e sudeste, as mais habitadas, têm, portanto, déficit de água.

Outra forma de entender esse cenário é comparamos o Planeta Terra a uma melancia; o volume total de água no Planeta, com uma bola de ping pong; o total de água doce, com um grão de ervilha; o total de água doce, disponível nos lagos e rios, seria comparado com menos um grão de areia.

A água passa a ser tema mundial, em 2013, como  ‘Cooperação pela Água’, sob a égide da ONU. O Brasil, que já tinha implantado, em 2003, o Dia Nacional da Água, aderiu à proposta internacional. Porém, ainda é muito frágil a cultura estabelecida em prol da conscientização sobre a importância do recurso. Esse assunto exige uma participação legitima e interdependente da comunidade, dos governos, comitês das bacias hidrográficas, das Ongs, dos educadores, enfim, de todos que se beneficiam com esse bem. Não podemos esperar os estragos do próximo ano, provocados pela estiagem, pelas incertezas climáticas, pela falta de planos de contingência, pelos estilos de vida inescrupulosos e pela falta do comprometimento dos brasileiros como cidadãos.

Sobre autor

Germano Hernandes Filho é engenheiro pós-graduado em Engenharia Urbana e Construções Civis (USP), especialista em Gerente de Cidades (FAAP), em Segurança do Trabalho (Mackenzie). Participa como membro do Comitê Federal da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, do Fórum Paulista dos Comitês de Bacias e do Conselho Estadual dos Recursos. Foi presidente e vice-presidente do Comitê Estadual da Bacia Hidrográfica Turvo/Grande e da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de São José do Rio Preto/SP.