quinta-feira, outubro 17, 2013

Segue a segunda parte da entrevista que Bruno Justo, Coordenador Operacional da Green Building Council Brasil (GBC), concedeu à Montage sobre a construção sustentável e os desafios para atingir metas importantes ao país. A primeiro parte foi publicada na semana passada. Confira!
  
MONTAGE: Qual é o critério utilizado pelo GBC para considerar uma construção sustentável?
GBC: Práticas de construção sustentável voltadas à localização e sua relação com o entorno, eficiência energética, uso racional de água, qualidade ambiental interna, uso de materiais de baixo impacto ambiental, inovação e práticas sociais.  

MONTAGE: Qual o caminho para se tornar uma construção sustentável? 
GBC: É necessário conceber projetos com a devida orientação para maximizar a iluminação e ventilação natural, valorizar espaços abertos, preservar ou recuperar habitat natural, manter baixa a carga térmica da edificação sombreando fachada, evitando o efeito ilha de calor com a aplicação dos telhados verde ou frios, se a fachada for de vidro, priorizar aqueles que permitem a entrada da iluminação e barram o calor ou utilizar películas especiais para tanto.

Internamente, investir em luminárias e sistema de ar condicionado de alta eficiência, sensores de presença, monitoramento de sistemas, elevadores inteligentes, captação de água de chuva para reuso, sistemas de tratamento e reuso de águas, painéis solares para aquecimento de água de chuveiro, produção de energia renovável. Com foco em saúde, utilizar tintas, vernizes e selantes com baixo teor de compostos orgânicos voláteis, produtos de limpezas que não possuem toxinas prejudiciais à saúde e sistemas de controle de qualidade do ar. Manter ainda um rígido processo de manutenção de dutos, filtros, controle de legionella, entre outros.

Em relação a materiais, deve-se priorizar fornecedores locais, materiais de reuso, materiais de conteúdos reciclados e biodegradáveis, madeira certificada, colocar em prática um planejamento eficiente de separação, reciclagem, reuso e correta destinação dos resíduos da construção e operação.

Os processos de certificação podem auxiliar a guiar e motivar os responsáveis para a consideração de forma integrada das práticas acima.
  
MONTAGE: A construção sustentável é mais cara? 
GBC: O custo adicional de uma construção sustentável varia de 1% a 7% do valor gasto na construção, porém temos uma redução de 9% do custo operacional, ou seja, em curto prazo, temos o "pay back".

Mas ainda podemos somar ganhos econômicos relacionados à valorização do empreendimento, ao aumento da velocidade de ocupação, da retenção nas edificações, diminuindo o risco do investimento e aumento de produtividade dos usuários. A construção sustentável faz todo sentido econômico , oferecendo ganhos a todos os stakeholders relacionados à edificação.

MONTAGE: Hoje, o mercado está muito competitivo e os espaços estão escassos. É possível a construção sustentável, nesse cenário? 
GBC: Por vezes, a competitividade auxilia o movimento uma vez que a construção sustentável desponta como importante diferencial. Outrossim, a escassez de espaço para construir, principalmente, nos grandes centro urbanos, justifica e fomenta um importante mercado para mitigação dos impactos das edificações, tal qual os projetos de reformas de edificações existentes com foco em eficiência. Pensando em prédios existentes, temos a oportunidade de reduzir consideravelmente os cursos de energia, água, melhorar a operação de manutenção, a qualidade ambiental interna e outros itens.  Em termos de parâmetros numéricos, atualmente as edificações consomem 44% de energia e 21% de água tratada no país.

MONTAGE: Como a atuação de uma empresa de instalação hidráulica e elétrica pode se tornar sustentável? 
GBC: Os projetistas de instalações devem se atentar às normas vigentes e de eficiência energética e hídrica existentes no Brasil e no mundo.

Um exemplo é a NBR 15920: 2011, aplicável em todas as instalações de baixa e média tensão e, também, nas redes de transmissão e distribuição de energia, com o intuito de economizar energia e reduzir as emissões de CO2, por meio do dimensionamento econômico dos fios e cabos elétricos. A queda de tensão total dos condutores pode chegar até 2%, tornando-a mais restritiva que a ASHRAE (normativa americana de eficiência energética). Outras estratégias aplicáveis em projetos elétricos eficientes são: a seleção correta de equipamentos eficientes, com cargas equivalentes a sua utilização (e não superdimensionados) e simulação energética da edificação, que apontará as falhas do sistema elétrico como um todo, levando em consideração todos os circuitos elétricos utilizados – ar condicionado, luminotécnico, elevadores e bombas, sistemas de aquecimento, equipamentos, envoltória eficiente/automatizada, entre outros.

Projetar circuitos de lâmpadas com acionamento separados também é uma estratégia de redução de consumo, pois o ligamento das lâmpadas fica em função do usuário, que controlará seu uso dependendo da iluminação existente no local (quando se usa luz natural, não é necessário iluminação artificial, podendo apagar as lâmpadas próximas de janelas, por exemplo, reduzindo, assim, o consumo energético). Podemos também citar a automação como um grande aliado da eficiência energética e utilização de energias renováveis no local como fonte alternativa de energia da rede municipal. Nesse caso, é necessário que o projetista especifique 2 relógios de energia, um que medirá a entrada de energia e outro que medirá a saída para a rede, conforme resolução nacional da ANEEL. Todos os sistemas citados são aplicáveis em projetos elétricos, hoje, e ajudam na redução do consumo energético e sustentabilidade da instalação elétrica.

Em relação à instalação hídrica, podemos citar a especificação de equipamentos hidráulicos eficientes, tais como torneiras com temporizadores, válvulas e descargas com duplo fluxo (3 e 6 litros), chuveiros eficientes, entre outros. Especificar medidores individuais de consumo (conforme a distribuição do projeto hidráulico) também ajuda na medição e verificação do consumo de água para cada grande área. É um caminho que facilita a promoção de estratégias de redução de consumo durante a operação e facilita a verificação de possíveis vazamentos. Reutilizar água de chuva para irrigação ou outros sistemas secundários de utilização de águas cinzas (vasos sanitários, torres de resfriamento) é uma estratégia de economia e redução de consumo de água potável. Diminuir a conta de fornecimento de água municipal no final do mês depende também do projeto hidráulico bem feito e dimensionado. É possível sempre recorrer à criatividade na hora de projetar, estando ciente das dificuldades e facilidades de cada projeto e, principalmente, de olho nas inovações que o mercado disponibiliza.

MONTAGE: Quais são os selos existentes? Que peso tem para o mercado como um todo? O consumidor final opta por unidades de construções sustentáveis, certificadas? 
GBC: Há vários modelos de Certificações, a saber: AQUA, LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental), CASBEE, Green Star, BREEAM, HQE entre outros. A Certificação atesta que o empreendimento certificado seguiu de acordo com a sua tipologia os preceitos estipulados pelo mesmo, sendo o diferencial mensurado de acordo com o reconhecimento e a credibilidade da Certificação.
Considerando o ciclo de vida de 50 anos de um empreendimento, o gasto no processo construtivo e financiamento representam 25% do valor total, o remanescente, 75%, contempla a operação e manutenção dos empreendimentos, ou seja, são os consumidores finais os maiores beneficiados com o processo de Certificação.
O mundo corporativo já possui essa visão de mercado e de quem paga a conta final, por isso, suas instalações são realizadas em empreendimentos que seguem esses preceitos.

MONTAGE: O GBC também tem o papel de educar o consumidor final?
GBC: Sim. Em 2008, o Green Building Council Brasil lançou o Programa Nacional de Educação com o intuito de fomentar e capacitar o mercado da construção sustentável. Atualmente, contamos com mais de 55 mil profissionais impactados através dos cursos de pequena duração, Pós e MBA, seminários, palestras e a nossa Green Building Brasil Conferência Internacional e Expo, apresentando como denominador comum o objetivo de disseminar o conceito bem como a prática da construção sustentável junto com seus benefícios.  





quinta-feira, outubro 17, 2013 por Unknown

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quarta-feira, outubro 09, 2013

A Green Building Council Brasil (GBC) debate, educa e trabalha duro para que a construção sustentável seja adotada cada vez mais pelo mercado. É uma organização não governamental, criada em 2007, que certifica indústrias do setor, com LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Bruno Justo, Coordenador Operacional dGreen Building Council Brasil (GBC), concedeu uma entrevista bem interessante e esclarecedora à Montage, que será publicada em duas partes. Confira a primeira! 

MONTAGE: O que é uma construção sustentável?
GBC: é um conjunto de práticas adotadas em um processo integrado de concepção, implantação, construção e operação de edificações e espaços construídos com o intuito de obter uma edificação que reduza o seu impacto ao meio ambiente. Contempla o tripé da sustentabilidade, entre eles fatores relacionados à qualidade ambiental interna, uso de materiais de baixo impacto, uso racional de água, redução no consumo energético, bem como a conectividade urbana em relação ao entorno.

MONTAGE: Como o GBC atua para incentivar a construção sustentável? 
GBC: O GBC Brasil visa desenvolver a indústria da construção sustentável no país, utilizando as forças de mercado. Para isso, foca as atividades em quatro frentes:
  • Atuação proativa junto a organizações, a promoção de política públicas de fomento ao setor da construção sustentável, bem como organizações privadas que possam apoiar em nossa missão.
  • Compilação e divulgação das melhores práticas, incluindo tecnologias, materiais, processos e procedimentos operacionais,  tendo como principal ferramenta a nossa Conferência Internacional & Expo.
  • Promoção de certificação internacional LEED utilizada em 143 países. Atualmente, o Brasil é o quarto país com o maior número de registros no ranking mundial.

  • Outra área de atuação é a capacitação profissional através de nosso Programa Nacional de Educação, que já conta com a participação de mais de 55 mil profissionais de todo Brasil.

MONTAGE: Como a atuação do GBC beneficia o país?
GBC: O movimento da construção sustentável no Brasil, onde o GBC é um dos atores, vem provocando a elevação do padrão técnico do mercado como um todo, incentivando inovações tecnológicas e avanços em termos de políticas públicas, bem como a priorização de práticas e metodologias que buscam alinhar o desenvolvimento econômico com a melhora na qualidade de vida, redução do uso de recursos naturais e mitigação de impactos socioambientais.
Em breve, seguirá a segunda parte da reportagem!  




quarta-feira, outubro 09, 2013 por Unknown

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