Pesquisadores coletaram amostras para estudos climáticos no Brasil.
Foram 1,4 mil km percorridos desde o dia 5 de janeiro
Quatro pesquisadores brasileiros completaram a travessia científica pelo interior da Antártica na última sexta-feira (16). Ele retornaram ao ponto de partida, um acampamento na geleira Union.
Ainda como preparativo da expedição, antes de iniciar a viagem de volta a Porto Alegre, a equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vai preparar as amostras de gelo coletadas para transporte.
"Atravessamos 1,4 mil quilômetros do manto de gelo da Antártica Ocidental, coletando 110 metros de testemunhos de gelo e dezenas de amostras superficiais para análise ambiental", escreveu o diretor do Centro Polar e Climático da UFRGS (CPC), Jefferson Simões, líder da expedição financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em diário da travessia.
"Levantamos o provável local onde instalaremos o módulo Criosfera 2 e ainda marcamos a rota para o transporte desse módulo, desde a pista de aterrissagem no gelo azul na geleira Union até o monte Johns", continuou.
A iniciativa
Iniciada em 5 de janeiro, a bordo de duas caminhonetes, a travessia passou pelo módulo Criosfera 1, posto latino-americano mais próximo do Polo Sul geográfico, e depois chegou à região do monte Johns, onde o Brasil deve instalar o Criosfera 2, no verão de 2015 a 2016.
Do local, o grupo seguiu viagem para dentro da bacia de drenagem da geleira da ilha Pine. Sob "condições meteorológicas excelentes", com velocidade de até 70 km por hora, a equipe completou o trecho final de 300 km, ao superar as montanhas Ellsworth e um campo de fendas e descer de uma altitude de 2.120 m para 720 m.
"Navegamos por toda a madrugada, acima dos 2 mil metros, continuando nossa amostragem a cada 10 km. Às 6 horas da manhã do dia 16, chegamos ao início da passagem Hewett, que dá acesso à cadeia Heritage das montanhas Ellsworth", relatou Simões.
"Montamos nossas barracas e alguns dormiram nos veículos, porque tínhamos que esperar a chegada de dois guias que já conheciam o passo. Os primeiros dois quilômetros atravessam uma área com muitas fendas e só é possível passar por lá seguindo um corredor de cerca de 8 metros de largura, já demarcado. Às 11h, os guias chegaram de motos de neve e trafegamos entre as montanhas. A travessia estava completa às 15h30", seguiu.
Em seu último texto, divulgado domingo (18), o pesquisador da UFRGS previu que, em três dias, que incluem esta segunda-feira (19), eles preparam o transporte dos testemunhos de gelo. O material seguirá em câmara frigorífica para a Universidade do Maine, nos Estados Unidos, além do material científico e de acampamento, a ser levado por um navio da Marinha do Brasil até Punta Arenas, no Chile, de onde a equipe saiu de aeronave antes da travessia.
Massa de gelo
O grupo dedicou a quinta-feira (15), quando ainda estava acampado no monte Johns, para conhecer a bacia de drenagem da ilha Pine, com objetivo de coletar amostras superficiais de neve e recuperar um testemunho de gelo com cinco metros de comprimento, a fim de determinar a variação de acumulação de neve no passado recente.
Segundo Simões, "a enorme massa de gelo isolada" corre para os mares de Amundsen, a sudeste do oceano Pacífico, e de Weddell, mais próximo ao Atlântico.
"Estamos sobre o manto de gelo da Antártica Ocidental, em média 2 mil metros acima do nível do mar. Conforme avançamos, a espessura do gelo aumenta, atingido 3,5 mil metros a 100 km de nosso acampamento", contou o expedidor.
O diretor do CPC informa que, desde 1968, existe uma hipótese de que as geleiras assentadas em superfícies rochosas abaixo do nível do mar sejam mais sensíveis a variações ambientais, como o aumento da temperatura oceânica.
"Basicamente, água mais quente poderia causar o recuo das frentes dessas geleiras de maneira rápida, desestabilizando os pontos nos quais elas estão assentadas sobre a rocha, fazendo com que o gelo deslizasse mais rapidamente para dentro do mar e contribuindo para o aumento do nível dos oceanos, em alguns metros, em pouco mais de um século", explicou.
Já neste milênio, de acordo com Simões, estudos por imagem de satélites começaram a detectar um rápido recuo da frente da geleira da ilha Pine. "Assim, não causa surpresa o investimento de milhões de dólares por parte da comunidade internacional em investigações dessa e de outras geleiras nesta parte do manto de gelo antártico", comentou.
A travessia científica, a montagem do Criosfera 2 e a manutenção do Criosfera 1 até fevereiro de 2016 estão garantidos por recursos da Coordenação para Mar e Antártica do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI).
As atividades integram o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), com apoio da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm).
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