Os recursos naturais, como água, energia, alimentos etc., são
abundantes no Brasil. Fatores como clima, solo, extensão territorial etc. nos
favorecem. Mas também é um país de grandes desperdícios que limitam o nosso
acesso a esses recursos.
No entanto, temos dificuldades em manter o abastecimento de
alguns insumos vitais. O mais grave e recente deles é a água em certas regiões
de São Paulo, apontando para um possível desabastecimento em futuro não muito
longínquo.
Não temos grandes áreas desérticas, temos uma quantidade de
chuvas superior a grande maioria dos países, rios caudalosos etc. E a região de
São Paulo também não deveria ter problemas. Apesar das poucas chuvas do último
ano.
O problema que a maioria parece crer é que faltaram
investimentos para colocar mais agua à disposição. E que a solução é mais
investimento para aumentar a capacidade.
Essa não nos parece necessariamente a abordagem mais correta.
Temos aqui mais uma evidência de que somos uma sociedade de grandes
desperdícios. Mais de 50% da água no Brasil é desperdiçada, utilizando-se muito
mais do que o efetivamente necessário. De 30% a 40% da agua é jogada fora
antes mesmo de chegar ao usuário final, no processo de coleta, armazenagem e
distribuição.
E quando a água chega nas torneiras das casas, estabelecimentos
comerciais e indústria, ainda assim há um desperdício no próprio consumo.
Usa-se água quando poderia se usar uma vassoura e um pano assim como a grande
maioria das torneiras e vasos sanitários ainda não são do modo econômico.
Mas isso não acontece apenas com a água. Tomemos o caso dos
alimentos. Entre 30% e 40% são perdidos antes de chegar à mesa do consumidor,
no processo de produção e distribuição. E outros 10% a 20% são perdidos no
processo de consumo em si. Novamente, mais da metade dos recursos são
desperdiçados.
Na situação da energia, tivemos a oportunidade de reduzir os
níveis de consumo em mais de 20% durante o apagão de 2001 apenas com medidas de
redução de desperdício do consumidor. Imaginamos que isso possa acontecer
novamente e com desperdícios da geração e distribuição de energia também
poderíamos aproveitar melhor os recursos.
Em resumo, ao menos 50% da água, da energia e dos alimentos são
desperdiçados no país atualmente!
E ainda mais. Vamos agora para os resíduos sólidos. A reciclagem
engatinha. Ha décadas fala-se nisso, foram feitos vários projetos pilotos em
várias cidades, e os resultados são muito limitados. Com exceção de latas de
alumínio, a quantidade de reciclagem ainda não chega a 2% do material gerado.
Lembrando que a ideia de reciclagem, aliás, pode ser estendida à
própria água, conforme mostra a experiência de outros países.
Quase sempre a solução vislumbrada para os problemas de recursos
é investir mais para aumentar a capacidade. A capacidade já existe. Está
escondida por esse mar de desperdícios.
Em grande parte, isso não é necessário. Na grande maioria das
situações, o problema central está na redução dos desperdícios e não no aumento
da capacidade. E muitas vezes, os investimentos necessários para reduzir os
desperdícios são muito menores do que para gerar mais capacidade.
Com isso, conseguiremos inclusive baixar os custos de produção
ao reduzir a necessidade de investimentos, possibilitando, até mesmo, a redução
da escassez de alimentos, energia e água para quem ainda tem acesso limitado e
restrito.
O primeiro passo é encontrar as principais causas dos
desperdícios e tentar eliminá-las. Muitos setores da indústria têm implementado
esse processo com muito sucesso. Mas, para os governos, parece ter menos
glamour. E a sociedade ainda não tem muita consciência e conhecimento.
Texto de José Roberto Ferro,
presidente do Lean Institute Brasil
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